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quinta-feira, 16 de julho de 2009

A PERFEIÇÃO CRISTÃ

"12 Não que eu tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. 13 Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, 14 Prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. 15 Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá. 16 Todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos". Filipenses 4.12 a 16.
Falar de perfeição me remete a um ilustre artista do século XV - Michelangelo. Uma de suas obras mais importantes e famosas é a Estátua de Moisés. Diz a história que ao terminar sua obra, após tanto esforço, diante de tamanha perfeição, sua única atitude foi pegar seu martelo e arremetê-lo contra o joelho da estátua, exclamando uma das expressões mais conhecidas mundialmente: (Perché non parli ?) “Porque não falas?”. Para Michelangelo, só faltava a vida à estátua.
O apóstolo Paulo também aborda o tema da perfeição. A comunidade de Filipos, fundada por ele e seu cooperador Timóteo, é conhecida como a comunidade da alegria. Além disso, a tônica de cordial afeição e apreço por essa comunidade, levou alguns de seus membros a se considerarem perfeitos, melhores que os outros. Mas, onde há alegria, não há, necessariamente, isenção de problemas e tristezas. Basicamente, dentre alguns motivos que Paulo encontra para escrever essa carta, podemos observar, no cerne desta perícope, uma recomendação a pensar no valor incomensurável de prosseguir rumo à perfeição em Cristo. Essa palavra de encorajamento de Paulo nos remete à concepção acerca do prêmio da vocação do alto. Mas quais seriam os fatores para alcançá-lo? Apresento três dentre tantos que poderíamos elencar.
O primeiro fator é...
Rreconhecer os próprios limites: A comunidade em Filipos participava de forma integral no ministério de Paulo. Sua ajuda financeira, moral, psicológica etc. expressava seu compromisso com o apóstolo e com a missão. Todavia, esse engajamento na missão começou a fluir dentro de uma parte da comunidade o sentimento de soberba. E é contra essa arrogância que o apóstolo Paulo testemunha ao escrever: “Não que eu tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição (...) quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado”, como nos dizem os versos 12 e 13. Nos dias de hoje encontramos situações e comportamentos não muito diferentes dos daquela comunidade. Algumas igrejas, ao participar, parcialmente, dos ministérios com suas contribuições, sejam financeiras, moral e psicológicas permitem, tal como os filipenses, que a arrogância flua no meio da igreja, trazendo discórdias entre o povo de Deus. Parece que ao contrário de Paulo, julgam ter alcançado a perfeição. Para vencermos o sentimento de presunção, que por vezes nos acomete, é necessário reconhecer que ainda nos falta muito para obter a perfeição. Isto é, reconhecer que somos homens/mulheres que temos nossos limites e que precisamos nos esvaziar de nós mesmos assim como Jesus fez.
Ma além de reconhecer os próprios limites, precisamos...
Reconhecer as próprias potencialidades: Provavelmente a comunidade em questão estava presa a conceitos e costumes antigos, e neles confiava como fonte de suas potencialidades. Paulo apresenta alguns cuidados que a comunidade deveria tomar em relação à “velha vida”, além de algumas razões que ele próprio poderia utilizar como expressão de confiança, mas que ele as considera como perda, diante do prêmio da vocação do alto. As aparentes potencialidades como ser hebreu de hebreu, circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, são, para ele, coisas que para trás ficam, potencialidades sim, mas não o prêmio em si. Nós também temos potencialidades! Somos capazes de realizar muitas coisas. Mas muitas vezes nos prendemos a conceitos e costumes antigos e, como se não bastasse, confiamos neles como nossa fonte de potencial, isso quando não a temos como única. Como muitos dos filipenses não reconhecemos o potencial que há em nós, não deixamos a “velha vida”, pelo contrário, utilizamos como expressão de confiança o título, o rótulo, a denominação e etc. Diante da orientação do apóstolo Paulo, precisamos reconhecer o potencial que há em cada um/a de nós e prosseguir rumo à perfeição cristã. Não podemos nos contentar com o que já alcançamos. Podemos, e, precisamos, obter novos conhecimentos para uma melhor compreensão do valor do prêmio que nos está proposto.
Por fim...
Precisamos reconhecer o próprio progresso: Paulo exorta a comunidade em Filipos sobre a necessidade de reconhecer e valorizar aquilo que eles já haviam alcançado. “Todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos”. Pensar no valor incomensurável do progresso do qual eles já haviam experimentado, como resultado de seu esforço e dedicação na caminhada com Cristo. O verbo alcançar, no versículo 16 (εφθασα), expressa uma ação completa, logo, a ação que houve na vida das pessoas daquela comunidade, da parte de Cristo, foi completa. Sob essa perspectiva, eles deveriam valorizar a si mesmos e, valorizar, o que já haviam alcançado. Você e eu de igual modo, devemos reconhecer o valor incomensurável do progresso já obtido por meio de nossos esforços. A compreensão da ação completa do sacrifício pleno de Jesus por nós deve permanecer viva em nossas mentes e corações, a fim de que sejamos encorajados/as a não esmorecer, pois o esforço humano é uma das áreas onde o poder de Deus se manifesta. Pensando nessa ação completa de Cristo em nós, assim como em tudo que já alcançamos até esse momento, em nossa caminhada, é necessário conduzir-se de acordo com os ensinamentos já recebidos da parte de Deus, que significa: "estejamos assim propensos!" Como nos aconselha John Wesley.
Concluindo: O reverendo John Wesley, em seu sermão de número quarenta, disse que é muito possível que houvesse um grupo de “perfeccionistas” na igreja de Filipos em busca da perfeição absoluta. Michelangelo não se contenta com a perfeição da estátua de Moisés, feita por ele próprio. Paulo aponta para a maturidade daqueles que, com os olhos fixos no alvo, buscam no seu Mestre a perfeição cristã; valorizando cada passo, como fator importante no esforço da busca do desenvolvimento pleno. Que Deus derrame sobre nós sua graça e nos capacite para reconhecer nossos limites, nossas potencialidades e sobretudo, valorizar nossas conquistas. Que Deus nos abençõe, amém.

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